quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Expressão na dança




É importante deixar claro que a expressão é fator fundamental para uma dança de qualidade. De nada adianta uma técnica lapidada e perfeita de movimentos, se o rosto e o corpo que dançam não traduzem emoção. E expressão é sinônimo de emoção, na arte e na dança.Expressão não é só a emoção que mostramos no rosto. É uma série de mensagens e emoções que passamos com todo o nosso corpo. Olhos, lábios, ombros, tronco, e principalmente, mãos.. Além disso, sua roupa, suas cores e acessórios.

Ex: Quando vemos algum objeto, roupa, etc. em algum lugar, isto nos faz pensar em alguém, e logo falamos: Isto é a cara da fulana. Pq??? Pela mensagem que ela nos passou com seu estilo de ser.

Existem algumas técnicas que podem ajudar a você a ter mais expressão na dança. Não que expressão deva ser ensaiada, expressão é emoção, mas precisamos de técnica para poder conhecermos a nós mesmos e nossos sentimentos internos, só depois conseguiremos saber como expressar nossas emoções adequadamente.


Então faça um exercicio:

1.Anote em um caderno, quais os comentários que costuma ouvir, que se referem ao seu corpo ou gestual. Como, por exemplo: “como você é delicada” ou “ você é desastrada” ou ainda “você tem um jeitinho de andar...” Anot esses comentários, mas não os conceitue como verdadeiros e imutáveiso,, ok?! Isso é somente para você ter uma idéia da mensagem não-verbal que costuma transmitir para as pessoas.


2. Anote suas características gestuais internas e externas, do tipo:


- o som do seu riso ou gargalhada, como é? Alto, baixo, sussurrado, exuberante...


- sua respiração - lenta, compassada, acelerada, sem ritmo, profunda, curta...


- a maneira como você se desloca – passos curtos ou longos, rapidamente, devagar, para onde olha, a postura ao caminhar, como movimenta os braços...


- a maneira como você pega objetos – se é delicada, se atrapalha e derruba tudo, se coloca força ou intensidade, se é suave (como segura os talheres, como escreve, como bebe água...)Entenda que o olhar do outro muitas vezes não coincide com o nosso olhar. Isso deve ser encarado com leveza, sem crises ou exigências. Lembre-se: independente do outro, você é única e isso não deve se alterar pela maneira com que os outros nos interpretam.
É aquela história: pergunte para alguém que gosta de mim se eu sou legal, claro, a pessoa dirá que sim. Pergunte a alguém que não me suporta, bem, a opinião será totalmente contrária.


Portanto, tendo anotado esses itens, você pode elaborar um guia gestual para ajudá-la a decifrar e entender suas mensagens e seu comportamento expressivo.


Em seguida, pense em como traduzir isso para a sua dança.Jade El Jabel disse em entrevista para este site algo simples mas surpreendente: “A mulher é na dança o que é na vida.” Ela pede para imaginarmos a mulher sorrindo, transando, parindo. Pense nessas expressões. Não tem como ser menos, disfarçar o que a move. A bailarina expressiva deve ter isso em mente. Ser, por inteiro, em sua dança.


O primeiro passo é a entrega, e ela só acontece quando a bailarina está totalmente imersa na dança, ou seja, atenta ao palco, música, platéia.


“Ser cênico” é um termo utilizado didaticamente em Artes Cênicas, especificamente no Teatro, para denominar a diferença entre sua pessoa cotidiana” e o “ser cênico”, ou seja, “a pessoa que surge quando se coloca no palco”.Dizer que o ser cênico jamais deverá ser igual à sua pessoa cotidiana, é na minha opinião impossível e irreal, mesmo sendo o palco uma estrutura dinâmica e elaborada que tem por objetivo trazer o imaginário, o mágico e etéreo para a platéia, não temos como separar o Ser cotidiano do Ser cênico. Seria o mesmo que dizer no palco entramos em transe e quando saímos como num passe de mágica saímos do transe.


Ex: Digamos que houvesse uma peça de teatro e tivesse que interpretar um mendigo bêbado, além de nunca ter sido uma mendiga você não bebe. Vá conversar com os mendigos, observar como vivem, beber com eles, só assim saberá como você seria se fosse um mendigo, ou seja tens que te “entregar “ ao Ser cênico mas com todas tuas características já existentes. Ninguém muda só porque subiu no palco. Aí, você pode me perguntar: mas como a “fulana” é tão diferente quando dança? Ela separou o Ser cênico do Ser cotidiano. Não!!!Ela permitiu que algumas características que já existiam na sua essência se manifestassem.


Agora, imagine que a música sussurra uma história em seus ouvidos. Você deve reagir às palavras dela com o seu semblante (riso, tristeza, alegria, mistério). Imagine também que cada gesto seu é uma história a ser contada para a platéia. Por exemplo, ao tocar o cabelo, imagine que está embaixo de uma cachoeira, lavando o cabelo. Ou ao esticar os braços e movimentar levemente a: mão, que está tentando tocar alguém que se distancia, ou que chama por alguém. Assim é que começa a expressão no corpo. Reagindo à historia que a música traz, e contando ao público o que você ouve/sente, por isto, sou a favor de sempre traduzir a música e saber o que a letra diz.
Lembre-se de que a palma das mãos é fator essencial para comunicar-se. É através dela que você direciona o seu olhar e faz com que o público olhe para você.
Sua face também se expressa. A começar, pelo tipo de maquiagem que você utiliza. Sorrir é algo que deve ser espontâneo. Não sei o que é pior: não sorrir, ou fingir que sorri. O riso caricato é feio, superficial e causa desconforto em quem assiste. Eu tinha muita dificuldade de sorrir no palco, mas tive uma professora Shanasis Al Shams que ao ensaiar fazia eu sorrir, então aprendi a sorrir na dança com naturalidade. Não sorrio sempre mas aprendi a sorrir mais. Ou seja treinar ajuda muito na expressão e confesso que esta professora é uma das bailarinas que conheço com mais expressão.
Então se a música te contar algo alegre, sorria. Se a música te contar uma saudade, uma tristeza, não há porque sorrir. Simples assim.
Como ouvir as histórias que a música conta? Com dois órgãos: ouvidos e coração. Sim, você deve sentir a maneira como seu coração pulsa ao ouvir uma melodia. Faça esse exercício: coloque um rock, dos bons. Depois uma ópera. Depois, uma bossa nova, um samba, um heavy metal. Coloque suas mãos em cima de seu coração enquanto ouve essas músicas e sinta a diferença no pulsar. É assim que, também sua expressão, deve movimentar-se. Expressão é dinâmica, ela não fica ‘congelada’ e sempre igual. Sinta as nuances da música e modifique sua expressão na medida em que a música modifica a sua emoção.Ouça, primeiro de olhos fechados. Depois, (parece bobo, mas juro que funciona) ouça a música olhando-se no espelho e fazendo ‘caras e bocas’ conforme escuta, tentando explorar o que a música te proporciona em termos de emoção. Em seguida, dance. Sem compromisso.
Todos esses itens são um guia para você elaborar o seu conteúdo expressivo. Lembre-se de que flutuações de humor, hormônio, TPM, etc. podem modificar a sua expressão e até a sua dança. Permita-se ouvir muita música e treinar muito, para se defender desses contratempos e escorregões emocionais.
A bailarina expressiva é aquela que sabe separar as suas emoções e adaptar-se às emoções do ‘ser cênico’ na medida em que a música pede.


Para ter expressão é preciso antes de tudo, sentir. Por isso, solte-se, desprenda-se dos valores, medos e inseguranças e descubra o seu ‘ser cênico’ para sentir-se segura e protegida.

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